venerdì 21 febbraio 2014

Com a chef das favelas, os resíduos alimentares tornam-se pratos orgânicos




Regina Tchelly De Araujo Freitas é uma jovem empreendedora que está deixando a sua marca na gastronomia brasileira, com um projeto cujo nome diz tudo: Favela Orgânica.

A iniciativa prevê a realização de pequenas hortas orgânicas em algumas favelas, entre elas, Santa Marta, Babilônia e Complexo do Alemão (com mais de 200.000 habitantes), pacificadas graças a uma operação implementada pelo governo Lula, para libertar estes lugares da violência e da profunda miséria. Além da produção de alimentos saudáveis, locais e orgânicos para a comunidade (que cuida, diretamente, das hortas), a Favela Orgânica pratica uma cozinha que utiliza integralmente os produtos, inclusive os resíduos, para tentar modificar os hábitos alimentares das pessoas. Planejando as compras e o consumo, o projeto promove uma reflexão sobre o desperdício de alimentos que acontece diariamente até nas comunidades mais carentes. O estilo de Regina, longe de ser uma criação da mídia, é resultado de suas origens e de sua história, da necessidade de conseguir fazer almoço e jantar. Quando a comida é escassa, a criatividade é o único caminho, e o seu talento está na capacidade de saber criar pratos de qualidade excepcional com poucos recursos.

Numa época em que, como nunca antes na história da gastronomia, há uma proliferação descontrolada de eventos gastronômicos de todos os tipos (programas de televisão, shows de talentos, concursos de culinária, espetacularização da figura do chef), inclusive no Brasil, Regina está lidando com esta fase de uma forma muito pessoal, com resultados qualitativos que têm atraído a atenção de grande parte da imprensa carioca.
No mundo todo, e sobretudo na América do Sul, falar de gastronomia significa, com frequência, limitar-se a uma perspectiva hedonista e restrita, incapaz de levar em conta as contradições que o sistema alimentar gera em todos os cantos do planeta. Basta pensar que, ao mesmo tempo que há 840 milhões de pessoas malnutridas – das quais, 30 milhões morrem de fome a cada ano – há um bilhão e meio de obesos. É uma realidade vergonhosa, mais do que nunca hoje, quando a gastronomia vive a sua idade de ouro.

Regina tem 32 anos, nascida no nordeste, a região mais pobre do Brasil. Aos 17 anos muda-se para o Rio, para trabalhar para famílias abastadas da cidade. Trabalha durante 12 anos para famílias da classe média carioca, aprimorando os seus conhecimentos e práticas culinárias. Em 2010, abraça a causa da alimentação orgânica, realizando as primeiras hortas em sua favela, Babilônia, e trabalhando pessoalmente nas diversas feiras de produtores do Rio. Começa a fazer demonstrações inovadoras, apresentando receitas inéditas, com desperdício zero. O seu trabalho começa a ficar conhecido na cidade, assim como o seu nome. E acontece o primeiro salto: com o apoio do Slow Food Brasil, Regina começa a dar cursos de cozinha em casa, ensinando jovens a aproveitar todas as partes dos produtos, incluindo aquelas que normalmente são consideradas resíduos, como cascas de legumes, sementes ou a água de cozimento alguns alimentos.

Isto produz um efeito duplo: por um lado, ela transmite uma mensagem simbólica forte para reduzir ao mínimo ou eliminar completamente o desperdício alimentar e, por outro, estas práticas são uma garantia implícita da salubridade da matéria-prima que, se não fosse orgânica, não poderia ser utilizada desta forma.

Na véspera do Ano Novo, Regina organizou uma festa para os desabrigados de Copacabana. Enquanto as festividades aconteciam por toda a cidade, compartilhar doces e música foi mais um sinal da alegria e da paixão com que realiza o seu trabalho, e mostra a pessoa iluminada que é. O seu trabalho adquire uma importância cada vez maior pelo impacto que tem sobre as comunidades urbanas e carentes e, em junho deste ano, será aberta uma nova sede para a sua escola, em frente à Capela de Santa Marta, na favela de mesmo nome, em Botafogo, com vista para as praias do Leme e Copacabana. Desde o início desta grande aventura, a Favela Orgânica cresceu muito e hoje está presente também em outros estados: Pernambuco, Paraíba, Minas Gerais, Ceará e São Paulo. A imprensa brasileira não deixa de promovê-la inúmeras vezes.

O uso integral da matéria-prima sempre fez parte do patrimônio da sabedoria feminina, mas a novidade é que, neste momento de explosão da moda da gastronomia do excesso, Regina está seguindo um caminho alternativo importantíssimo para debater temas fundamentais: no Brasil, de fato, há ainda um grande número de pessoas que, embora tenham o que comer, continuam em risco de desnutrição e nem sempre têm acesso a uma alimentação adequada e de boa qualidade.

A sua forma de interpretar o trabalho de cozinheira e gastrônoma conjuga prazer alimentar com compromisso social e o envolvimento no bem-estar da própria comunidade, fazendo parte de um movimento mais amplo que está se desenvolvendo em todo o Brasil, com pessoas e associações, como a Gastromotiva, que forma jovens chefs e apoia projetos de gastronomia social em todo o país.

A América Latina está vivendo um grande renascimento gastronômico e o Brasil está, sem dúvida, na linha de frente desse processo. A presença de Regina, da Gastromotiva e da rede Terra Madre Brasil é a esperança de que, nos próximos anos, com os dois grandes eventos esportivos (Copa do Mundo, no verão, e os Jogos Olímpicos de 2016), seja uma oportunidade também para aqueles que geralmente não se beneficiam destes grandes acontecimentos.

Regina é uma grande descoberta, acho que ainda vamos ouvir falar muito dela!


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