giovedì 1 maggio 2014

Airton Senna


RIO - O ano era 1986. Dia 22 de junho, GP dos Estados Unidos, no circuito de rua de Detroit. Logo após cruzar a linha de chegada, Ayrton Senna parou o carro na pista e pegou, com um torcedor, uma pequena bandeira do Brasil para celebrar sua quarta vitória na F-1, inaugurando um gesto que se tornaria sua marca registrada. E reforçaria definitivamente sua relação com a torcida brasileira. Na véspera, o Brasil havia sido eliminado pela França nas quartas de final da Copa do Mundo do México, em mais uma decepção do ainda futebol tricampeão mundial na busca pelo quarto título. Senna queria compensar a frustração dos torcedores. Conseguiu muito mais que isso: com suas vitórias, tornou-se o símbolo de um país que dava certo, numa época em que tudo parecia dar errado. Um símbolo de orgulho e esperança.

Brasil que viu Senna chegar à F-1, em 1984, ainda estava lutando para ter a primeira eleição direta para presidente após duas décadas de ditadura militar. No dia em que o país chorava a morte do presidente — eleito pelo Congresso Nacional — Tancredo Neves, em 21 de abril de 1985, Senna conquistava sua primeira vitória na categoria, no GP de Portugal. Parecia, mesmo, destinado a ser a válvula de escape de uma geração, que sofria na política, na economia e até no futebol, antes orgulho nacional.

Vitória no Brasil em 1991

Filho de um empresário de classe média-alta de São Paulo, Senna, obviamente, não sofreu na pele os problemas do brasileiro padrão. Caso contrário, sequer teria sonhado com o automobilismo, esporte que requer forte apoio financeiro familiar, especialmente no início. Não seria surpresa se o campeão que morava na Europa demonstrasse um certo distanciamento do torcedor comum, aquele que só o via pela TV ou, no máximo, uma vez por ano ao vivo, no GP do Brasil — no circuito de Jacarepaguá, no Rio, ou, depois de 1990, em Interlagos, São Paulo.


     
Mas Senna, a um oceano de distância, fazia questão de reforçar sua ligação com o Brasil. Fosse na bandeira junto ao cockpit, fosse no capacete amarelo com a faixa verde e detalhes em azul, ou nas constantes escapadas para seu refúgio no Brasil, a casa em Angra dos Reis, litoral Sul do Rio de Janeiro. E o país respondia com um carinho cada vez maior pelo ídolo. Sobrinho do tricampeão, o também piloto Bruno Senna, que passou pela F-1 e atualmente corre no Mundial de Endurance, viu de perto o piloto vitorioso se transformar em referência nacional.

— Ele conseguiu transcender o esporte e se tornar um exemplo de princípios de vida. Determinação, obstinação, perfeccionismo, senso de justiça e patriotismo fizeram do Ayrton alguém diferenciado num esporte onde a política sempre reinou — afirmou Bruno.

Senna foi o terceiro brasileiro campeão na F-1, consolidando uma hegemonia de 20 anos — o país chegou a ser o maior vencedor da categoria, com oito títulos de Emerson Fittipaldi (dois), Nelson Piquet (três) e Senna (três). Se a relação com Piquet, seu contemporâneo e, naturalmente, rival nas pistas, passou da indiferença à hostilidade aberta, com Fittipaldi a admiração era mútua e pública.

— A primeira vez que o encontrei, estava testando o Coopersucar, e ele veio até mim com o Milton, pai dele. Ele tinha uns 13 anos. Acompanhei o Ayrton de perto, ele foi um supercampeão. Éramos amigos, nós nos encontrávamos em Miami e no Brasil, mesmo quando eu estava na F-Indy, e ele na F-1. Do Ayrton, eu só lembro coisas boas — declarou Fittipaldi.
Com mais um fracasso da seleção brasileira numa Copa do Mundo, na Itália-1990, não havia mais dúvida de que Senna, então caminhando para o bicampeonato na F-1, já era o maior nome do esporte brasileiro na época. No entanto, apesar de todas as alegrias nas manhãs de domingo, faltava coroar sua relação com a torcida brasileira em casa.

Depois de sete participações frustradas no GP do Brasil, ele conseguiu, enfim, realizar o sonho em 1991. E a primeira vitória no país foi conquistada de forma épica, a custo de muito esforço e determinação para guiar um carro que já não contava com todas as marchas nas voltas finais. Cruzou a linha de chegada e, só então, deixou-se vencer pela exaustão, sofrendo com espasmos musculares nos braços e ombros que quase o impediram de subir ao pódio. Mas, depois de alguma espera, hoje inimaginável numa F-1 de cronograma rígido, dentro e fora das pistas, Senna estava lá, acompanhado dela, a bandeira. Expressão de dor, tentou uma, duas vezes, até erguer o troféu tão cobiçado. Dois anos depois, nova vitória em Interlagos, e dessa vez não houve drama, mas uma inesquecível festa, com a McLaren sendo cercada por torcedores que invadiram a pista paulista para comemorar ao lado do ídolo.

Homenagem da seleção

A última manifestação de carinho acabou sendo a maior, e mais dolorosa. Três dias após sua morte, milhares de brasileiros encheram as ruas de São Paulo para se despedir do tricampeão mundial, durante a passagem do cortejo fúnebre que levou seu corpo para a Assembleia Legislativa de São Paulo, onde outros milhares passaram horas na fila para lhe dar o último adeus. Dois meses depois, na Copa do Mundo dos Estados Unidos, no mesmo país onde Senna empunhou a bandeira pela primeira vez, para redimir a frustração do futebol, a seleção devolvia a gentileza na faixa levada pelos jogadores ao gramado na comemoração do título mundial: “Senna, aceleramos juntos — o tetra é nosso". No coração da torcida, porém, nem o fim do jejum da seleção amenizou a saudade do ídolo das pistas.

— O Brasil foi tetracampeão nos EUA, mas a sociedade brasileira não se via tão representada naquela seleção, pelo seu estilo de jogo. Senna, por sua vez, foi um herói popular do Brasil, um exemplo — comparou Mauricio Murad, professor de Sociologia do Esporte da Universidade Salgado de Oliveira.
Em entrevista a Celso Itiberê, colunista de F-1 do GLOBO, três anos antes da batida fatal em Ímola, Senna resumiu sua intensa ligação com o país:
— O Brasil é a minha casa, o meu ponto de referência. É minha terra, onde estão a minha família e os meus amigos. Onde eu encontro paz. E, com todos os problemas que nele existem, o Brasil é o lugar onde eu gosto de estar.


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